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12.13.2008

Zona Autonoma Temporaria

mais um capitulo do livro TAZ, de Hakim Bey
*Copyleft : esse livro não possui direito$ Autorai$ podendo ser livremente
distribuído, preservando o nome do Autor.



"...desta vez, no entanto, eu venho como o vitorioso Dionísio, que transformará o mundo numa festa... Não que eu tenha muito tempo..."
Nietzsche (em sua última carta "insana" a Cosima Wagner)



CAPÍTULO 3 A PSICOTOPOLOGIA DA VIDA COTIDIANA

O CONCEITO DA TAZ surge inicialmente de uma crítica à revolução, e de
uma análise do levante. A revolução classifica o levante como um
"fracasso". Mas, para nós, um levante representa uma possibilidade muito
mais interessante, do ponto de vista de uma psicologia de libertação, do que
as "bem-sucedidas" revoluções burguesas, comunistas, fascistas etc.

Um outro elemento gerador do conceito da TAZ surge de um
processo histórico que eu chamo de "fechamento do mapa". O último
pedaço da Terra não reivindicado por uma nação-Estado foi devorado em
1899. O nosso século é o primeiro sem terra incógnita, sem fronteiras.
Nacionalidade é o princípio mais importante do conceito de "governo" -
nenhuma ponta de rocha no Mar do Sul pode ficar em aberto, nem um vale
remoto, sequer a lua ou os planetas. Essa é a apoteose do "gangsterismo
territorial". Nenhum centímetro quadrado da Terra está livre da polícia ou
dos impostos... em teoria.

O "mapa" é uma malha política abstraía, uma proibição
gigantesca imposta pela cenoura/cacetete condicionante do Estado
"Especializado", até que para a maioria de nós o mapa se torne o território -
não mais a "Ilha da Tartaruga3", mas os "Estados Unidos". E ainda assim o
mapa continua sendo uma abstração, porque não pode cobrir a Terra com a
precisão 1:1. Dentro das complexidades fractais da geografia atual, o mapa
pode detectar apenas malhas dimensionais. Imensidões embutidas e
escondidas escapam da fita métrica. O mapa não é exato, o mapa não pode
ser exato.

A Revolução fechou-se, mas a possibilidade do levante está
aberta. Por ora, concentramos nossas forças em "irrupções" temporárias,
evitando enredamentos com "soluções permanentes".
O mapa está fechado, mas a zona autônoma está aberta.
Metaforicamente, ela se desdobra por dentro das dimensões fractais
invisíveis à cartografia do Controle. E aqui podemos apresentar o conceito
de psicotopologia (e psicotopografia) como uma "ciência" alternativa àquela
da pesquisa e criação de mapas e "imperialismo psíquico" do Estado.
Apenas a psicotopografia é capaz de desenhar mapas da realidade em escala
1:1, porque apenas a mente humana tem a complexidade suficiente para
modelar o real. Mas um mapa 1:1 não pode "controlar" seu território, porque
é completamente idêntico a esse território. Ele pode ser usado apenas para
sugerir ou, de certo modo, indicar através de gestos algumas características.
Estamos à procura de "espaços" (geográficos, sociais, culturais,
imaginários) com potencial de florescer como zonas autônomas - dos
momentos em que estejam relativamente abertos, seja por negligência do
Estado ou pelo fato de terem passado despercebidos pelos cartógrafos, ou
por qualquer outra razão. A psicotopologia é a arte de submergir em busca
de potenciais TAZs.

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