4.24.2009
1.18.2009
Perspectivas da transformação consciente da vida quotidiana
Guy Debord
Estudar a vida quotidiana seria uma empresa perfeitamente ridícula e, alem disso, condenada desde o princípio a perder de vista seu próprio objeto, se não propuser explicitamente o estudo da vida quotidiana para transformá-la.
A própria conferência, a exposição de determinadas considerações intelectuais diante de um auditório, como forma extremamente banal de relações humanas em um setor bastante amplo da sociedade, também se insere na crítica da vida quotidiana.
Os sociólogos, por exemplo, tendem a se separar da vida quotidiana e lançar paras as esferas chamadas superiores tudo que lhes acontece a cada instante. É o hábito, começando pelo de manejar certos conceitos profissionais - produzidos pela divisão do trabalho - que sob todas as suas formas mascara assim a realidade por trás das condições privilegiadas.
Por conseguinte, é oportuno mostrar que se deslocamos ligeiramente as fórmulas correntes descobrimos aqui mesmo a vida quotidiana. É claro que a difusão destas palavras mediante um toca-fitas não pretende precisamente ilustrar a integração das técnicas a esta vida quotidiana marginal ao mudo técnico, mas de aproveitar a ocasião mais simples para romper com as aparências de pseudocolaboração, de diálogo fictício, que se instituem entre o conferente "de corpo presente" e sues espectadores. Esta ligeira ruptura com um conforto pode servir para decidir na estrutura da crítica da vida quotidiana (crítica que de outro modo resultaria completamente abstrata) esta mesma conferência, como tanta outras disposições do emprego do tempo e das coisas, que a força de considerá-las "normais" já não se discernem; e que, fundamentalmente, nos condicionam. A propósito de um detalhe semelhante, como a propósito do conjunto mesmo da vida quotidiana, a modificação constitui sempre a condição necessária e suficiente para fazer aparecer experimentalmente o objeto de nosso estudo, cuja ausência o converteria em algo duvidoso; o objeto ao qual se não trata apenas de estudar, mas de modificar
Acabo de dizer que a realidade de um conjunto observável que se designaria pelo termo "vida quotidiana" corre o risco de ser hipotético para muitas pessoas. Com efeito, desde que se constituiu este grupo de investigação, o traço mais destacável não é evidentemente que ainda não haja descoberto nada, mas que desde o primeiro momento se tenha estabelecido a questão da própria existência da vida quotidiana; e não tenha deixado de aprofundar-se de sessão em sessão. A maioria das intervenções que até agora se puderam escutar nesta discussão procediam de pessoas nada convencidas de que a vida quotidiana exista, pois não a encontraram em nenhum lugar. Um grupo de investigação sobre a vida quotidiana, animado com semelhante espírito, é comparável em todos os seus aspectos a um grupo que partisse em busca do abominável homem das neves e cuja investigação poderia desembocar perfeitamente na conclusão de que na realidade não se tratava mais que de uma bufonada folclórica.
Entretanto, todo mundo está de acordo em que determinados gestos repetidos cada dia, como abrir as portas ou encher os vasos, são plenamente reais; mas estes gestos se encontram em um nível tão trivial da realidade que com razão se põe em dúvida seu possível interesse para justificar uma nova especialização da investigação sociológica. E certo número de sociólogos parecem pouco inclinados a imaginar outros aspectos da vida quotidiana a partir da definição proposta por Henri Lefebvre, isto é, "o que subsiste quando se subtrai do vivido todas as atividades especializadas". Aqui descobrimos que a maioria dos sociólogos - e já sabemos a satisfação que sentem em suas atividades especializadas, justamente, e o quanto de ordinário lhe consagram uma fé cega - a maioria dos sociólogos, digo, reconhecem atividades especializadas por doquier, e a vida quotidiana em nenhum lugar. A vida quotidiana se encontra sempre em outra parte, entre os outros, e em todo caso, entre as classes não-sociólogas da população. Alguém disse aqui que os trabalhadores constituíam um interessante objeto de estudo, por se tratarem de cobaias provavelmente inoculadas com esse vírus da vida quotidiana, pois não tendo acesso às atividades especializadas, tampouco podem viver outra coisa que a vida quotidiana. Esta maneira de pegar o povo em busca de um longínquo primitivismo do quotidiano, e sobretudo, esta complacência declarada e sem rodeios, esta ingênua arrogância de participar de uma cultura cuja categórica decadência, sua incapacidade radical de compreender o mundo que a produz ninguém pode ocultar, tudo isto não deixa de ser surpreendente.
Existe uma vontade manifesta de abrigar-se por baixo de uma formação do pensamento baseada na separação de domínios parcelares artificiais, a fim de recusar o conceito inútil, vulgar e nojento da "vida quotidiana". Semelhante conceito encobre um resíduo da realidade catalogada e classificada com o qual alguns não desejam enfrentar, pois constitui, ao mesmo tempo, o ponto de vista da totalidade e implicaria a necessidade de um juízo global, de uma política. Dir-se-ia que certos intelectuais se vangloriam assim de uma ilusória participação pessoal no setor dominante da sociedade, através da possessão de uma ou mais especializações culturais; isso os situa em primeiro plano, para se dar conta do ato seguido de que o conjunto desta cultura dominante está sensivelmente apoiado. Mas qualquer que seja o juízo que se pronuncie sobre a coerência dessa cultura ou sobre o interesse de seus aspectos, a alienação que ela impôs aos intelectuais em questão consiste em fazê-los crer, desde o céu dos sociólogos, que estes se encontram completamente fora dessa vida quotidiana de qualquer povo, ou situados num lugar por demais elevado na escala dos poderes humanos, como se estes mesmos não fossem igualmente pobres.
Não há dúvida de que as atividades especializadas têm uma existência; em uma época dada adquirem inclusive um uso geral que deve reconhecer-se sempre de uma forma desmistificada. A vida quotidiana não o é totalmente. Certamente, existe uma osmose entre esta e as atividades especializadas, e até o extremo que, desde determinado ponto de vista, nunca nos encontramos fora da vida quotidiana. Mas se se recorre à fácil imagem de uma representação espacial das atividades, a vida quotidiana deve se situar, além do mais, no centro de tudo. Cada projeto em parte e cada realização adquirem de novo nesta sua nova significação. A vida quotidiana é a medida de todas as coisas: do cumprimento ou melhor do descumprimento das relações humanas, do uso do tempo vivido, da busca da arte, da política revolucionária.
Não basta recordar que o tipo de velha imagem de Epinal científica do observador desinteressado é falaz em todos os casos. Deve-se sublinhar que a observação desinteressada ainda é menos factível aqui que em qualquer outro lugar. E a dificuldade inclusive de reconhecer um terreno da vida quotidiana não reside unicamente em que este constituiria o ponto de convergência de uma sociologia empírica e de uma elaboração conceitual, mas também no fato de que esse mesmo momento suporia a atualização de toda renovação revolucionária da cultura e da política.
A vida quotidiana não criticada implica neste momento a prolongação das formas atuais, profundamente degradadas, da cultura e da política, formas cuja crise extremamente avançada, sobretudo nos países modernos, se traduz em uma despolitização e em um neo-analfabetismo generalizado. Pelo contrário, a crítica radical, atuando sobre a vida quotidiana dada pode levar a uma superação da cultura e da política no sentido tradicional, isto é em um nível superior de intervenção na vida.
Não obstante, se dirá: Como podem existir pessoas que desprezam tão completa e imediatamente esta vida quotidiana, que para mim constitui a única vida real, mesmo quando essas pessoas não tem, apesar de tudo, nenhum interesse direto em fazê-lo? E por quê, se muitas dessas não são nada hostis a qualquer renovação do movimento revolucionário?
Creio que isso é devido ao fato de que a vida quotidiana está organizada dentro dos limites de uma pobreza escandalosa. E, sobretudo, porque essa pobreza da vida quotidiana não tem nada de acidental: é uma pobreza imposta em cada instante pela força e a violência de uma sociedade dividida em classes; uma pobreza historicamente organizada de acordo com as necessidades históricas da exploração. O uso da vida quotidiana, no sentido de um consumo do tempo vivido está condenado pelo reino da carência de tempo livre; e carência dos possíveis usos deste tempo livre.
Assim como a história de nossa época é a história da acumulação da industrialização, também o atraso da vida quotidiana, sua tendência ao imobilismo, são os produtos das leis e interesses que presidiram essa industrialização. Efetivamente, a vida quotidiana apresenta, até nossos dias, uma resistência ao histórico. Isso põe em questão, em primeiro lugar, ao histórico mesmo, enquanto herança e projeto de uma sociedade exploradora.
A pobreza extrema da organização consciente, da criatividade das pessoas na vida quotidiana, traduz a necessidade fundamental da inconsciência e da mistificação em uma sociedade exploradora, em uma sociedade de alienação.
Neste ponto, Henri Lefebvre aplicou extensamente o conceito de desenvolvimento desigual para caracterizar a vida quotidiana, desatada mas não desgarrada da historicidade, como um setor atrasado. Creio que inclusive pode-se qualificar este nível da vida quotidiana como setor colonizado. À escala da economia mundial se comprovou que o subdesenvolvimento e a colonização são dois fatores em mútua interação. Pois bem, tudo nos faz pensar que no nível da formação econômico-social, da praxis, vem a acontecer o mesmo.
A vida quotidiana, mistificada por todos os meios e controlada policialmente, é uma espécie de reserva para os bons selvagens que, sem sabê-lo, fazem marchar a sociedade moderna no compasso do rápido crescimento dos poderes técnicos e da expansão forçada de seu mercado. A história - isto é, a transformação do real - não se pode utilizar atualmente na vida quotidiana toda vez que o homem da vida quotidiana é o produto de uma história sobre a qual não tem nenhum controle. Evidentemente, é ele mesmo que faz esta história, mas não livremente.
A sociedade moderna está constituída por fragmentos especializados, mais ou menos intransmissíveis, e a vida quotidiana, de onde se corre o risco de estabelecer todas as questões de uma maneira unitária, é por isso mesmo o domínio da ignorância.
Através de sua produção industrial, esta sociedade usurpou todo sentido dos gestos do trabalho. E não existe nenhum modelo de conduta humana que conservou uma verdadeira atualidade no quotidiano.
Esta sociedade tende a atomizar as pessoas convertendo-as em consumidores isolados, e a impedir toda comunicação. A vida quotidiana se converte em vida privada, domínio da separação e do espetáculo.
Desse modo, a vida quotidiana se torna também a esfera da demissão dos especialistas. É daí, por exemplo, que alguns dos poucos indivíduos capazes de compreender a mais recente imagem científica do universo, se converte num estúpido e pondera amplamente as teorias artísticas de Alain Robbe-Grillet, ou melhor, manda petições ao presidente da república com a pretensão de desviar sua política. É a esfera do desarme, do reconhecimento da incapacidade de viver.
Por conseguinte, o subdesenvolvimento da vida quotidiana não pode se caracterizar somente a respeito a sua relativa incapacidade de integrar algumas técnicas. Este traço é um produto importante, mas ainda parcial, do conjunto da alienação quotidiana que se poderia definir como a incapacidade de inventar um técnica de libertação do quotidiano.
E de fato, existem muitas técnicas que modificam mais ou menos nitidamente certos aspectos da vida quotidiana: as artes domésticas, como já se disse aqui, mas também o telefone, a televisão, a gravação musical em discos, as viagens aéreas populares, etc. Estes elementos intervêm anarquicamente, ao acaso, sem que ninguém preveja nem suas conexões nem suas conseqüências. Mas não há dúvida de que, em seu conjunto, este movimento, que introduz certas técnicas no interior da vida quotidiana, e marcado em última instância pela racionalidade do capitalismo moderno burocratizado, adquire mais precisamente o sentido de uma limitação da independência e da criatividade das pessoas. Assim, as novas cidades de nossos dias demostram claramente a tendência totalitária que caracteriza a organização da vida pelo capitalismo moderno: nelas os indivíduos isolados (isolados geralmente na estrutura da célula familiar) contemplam como se reduz sua vida à pura trivialidade do repetitivo, diante da absorção obrigatória de um espetáculo igualmente repetitivo.
Devemos acreditar, por conseguinte, que a censura que as pessoas exercem sobre as questões relativas a sua própria vida quotidiana se explica pela consciência de sua insustentável miséria, e ao mesmo tempo, pela sensação, talvez inconfessa, mas inevitavelmente experimentada qualquer dia, de que todas as possibilidades verdadeiras, todos os desejos bloqueados pelo funcionamento da vida social, residiam precisamente nela, e de nenhum modo nas atividades ou distrações especializadas. Isto é, o conhecimento da riqueza profunda, da energia abandonada na vida quotidiana como miséria e como prisão; portanto, em um mesmo movimento nos leva a negar o problema.
Nestas condições, mascarar a questão política que estabelece a miséria da vida quotidiana significa mascarar a profundeza das reivindicações da riqueza possível desta vida; reivindicações que não levariam a nada menos que a reinventar a revolução. Se admitirá que elucidar uma política a este nível não é de modo algum contraditório com o fato de militar no Partido Socialista Unificado, por exemplo, ou de ler L’Humanité inocentemente.
Efetivamente, tudo depende do nível em que se coloca o seguinte problema: como se vive? Como alguém se satisfaz ou não se satisfaz? E isso sem se deixar influenciar nem por um único instante pelos diversos anúncios que pretendem nos persuadir de que se pode ser feliz graças à existência de Deus, do dentifrício Colgate ou do C.N.R.S.
Considero que o termo "crítica da vida quotidiana" também poderia ou deveria ser entendido com a seguinte inversão: a crítica que a vida quotidiana exercerá soberanamente a tudo o que lhes é exterior.
O problema do emprego dos meios técnicos, tanto na vida quotidiana como fora dela, não é nada mais que um problema político (e entre todos os meios técnicos utilizáveis, só se pôs em prática aqueles que foram autenticamente selecionados conforme o objetivo de conservar o domínio de uma classe). Quando se considera a hipótese de um futuro, tal como se admite na literatura de ficção científica, onde as aventuras interestrelares coexistiriam com um vida quotidiana conservada nesta terra sob a mesma indigência material e o mesmo moralismo arcaico, subentende-se com isso, exatamente, que continuaria existindo uma classe de dirigentes especializados mantendo a seu serviço as massas proletárias das fábricas e oficinas; e que as aventuras interestrelares não seriam nada mais que a empresa escolhida por estes dirigentes, a melhor maneira que teriam encontrado para desenvolver sua economia irracional, a consumação da atividade especializada.
Nos perguntam: a vida privada está privada de que? Muito simples: da vida, a vida está cruelmente ausente. A gente está privada de comunicação até os limites do possível; e de realização de si mesmo. Deveria-se dizer: privada de fazer pessoalmente sua própria história. As hipóteses que pretendem responder positivamente à questão sobre a natureza da privação não poderiam ser enunciadas, por conseguinte, senão sob a forma de projetos de enriquecimento; projeto de outro estilo de vida; em fim, de um estilo... Ou melhor, se se considera que a vida quotidiana se encontra nos limites entre o setor dominado e o setor não-dominado da vida, ou seja, no lugar do aleatório, será preciso chegar a substituir o gueto atual por alguns limites constantemente móveis; trabalhar permanentemente na organização de novas possibilidades.
A questão da intensidade do vivido se coloca atualmente, a propósito por exemplo do uso dos estupefacientes, nos termos em que a sociedade da alienação é capaz de colocar qualquer questão: nos termos do falso reconhecimento de um projeto falsificado, em termos de fixação e de petrificação. Também convêm recalcar até que ponto a imagem do amor elaborada e difundida nesta sociedade se assemelha com a droga. Nela, a paixão é reconhecida em primeiro como recusa de todas as demais paixões, mas só para trabalhá-la posteriormente, até que por fim já não se reencontre nada mais que nas compensações do espetáculo reinante. La Rochefaucauld escreveu: "O que freqüentemente nos impede de abandonar um único vício é que temos vários". Eis aqui uma constatação muito positiva se, descartando seus pressupostos moralistas, a colocamos sobre seus pés, como base descartando suas pressuposições das capacidades humanas.
Todos esses problemas estão na ordem do dia em uma época claramente dominada pela aparição do projeto - cujo porta-voz é a classe trabalhadora - de abolir toda a sociedade de classes e começar a história humana; e dominada, como colorário, pela encarniçada resistência a este projeto, pelos extravios e os fracassos deste projeto que se sucederam até nossos dias.
A crise atual da vida quotidiana se inscreve nas novas formas de crises do capitalismo, formas que seguem despercebidas por quem se obstina em calcular em função do vencimento clássico das próximas crises cíclicas da economia.
A desaparição de todos os antigos valores de todas as referências da comunicação anterior no capitalismo desenvolvido, e a impossibilidade de substituí-los por outros, quaisquer que sejam, sem conseguir previamente o domínio racional, tanto na vida quotidiana como em qualquer outro lugar, das novas forças industriais que cada vez mais escapam mais a nosso controle; estes fatos não só engendram a insatisfação quase oficial de nossa época, insatisfação particularmente aguda na juventude, mas ainda mais no movimento de autonegação da arte. A atividade artística sempre foi a única que prestou contas dos problemas clandestinos da vida quotidiana, mas de uma maneira oculta, deformada, parcialmente ilusória. Diante de nossos olhos existe já o testemunho de uma destruição de toda expressão artística: é arte moderna.
Se consideramos em toda sua extensão a crise da sociedade contemporânea, não parece que o tempo de ócio pode ser considerado ainda como uma negação do quotidiano. Se admitiu aqui a necessidade de "estudar o tempo perdido". Mas vejamos o movimento recente dessa idéia de tempo perdido. Para o capitalismo clássico, o tempo perdido é o tempo exterior à produção, à acumulação e à economia. A moral laica que se ensina nas escolas da burguesia implantou essa norma de vida. Entretanto por um ardil inesperado, o capitalismo moderno necessita acrescentar o consumo, "elevar o nível de vida" (se se quer lembrar que esta expressão carece rigorosamente de sentido). E dado que, ao mesmo tempo, as condições de produção, parcelarizada e cronometrada até um grau extremo, chegaram a ser completamente insustentáveis, a moral que já abriu passagem na publicidade, na propaganda e em as formas do espetáculo dominante, admite francamente que o tempo perdido é o tempo de trabalho, que já unicamente se justifica pelos diversos graus de lucro que procura, o qual permite comprar o repouso, o consumo, o tempo de ócio - ou seja, uma passividade quotidiana fabricada e controlada pelo capitalismo.
Se agora consideramos a facticidade das necessidades de consumo que altera de pés a cabeça e estimula incessantemente a indústria moderna - se se conhece o vazio do ócio e a impossibilidade do repouso -, podemos colocar a questão em termos mais realistas: Que não seria o tempo perdido? Dito de outro modo: O desenvolvimento da sociedade da abundância deveria desembocar na abundância de quê?
Evidentemente, isto pode servir como pedra de toque para muitos pontos de vistas. Por exemplo, num dos periódicos que dão mostra da inconsistência teórica dessas pessoas as quais se chama intelectuais de esquerda - me refiro ao France Observatour -, se anuncia algo assim como "O automóvel utilitário no assalto do socialismo", para encabeçar um artigo em que se diz que nestes tempos, os russos já perseguem individualmente um consumo privado de bens no estilo americano, começando naturalmente, pelos automóveis; quando lemos coisas deste estilo não podemos evitar a reflexão de que não é necessário ter assimilado depois de Hegel, toda a obra de Marx para advertir pelo menos que um socialismo que retrocede diante da invasão do mercado por automóveis utilitários não é de modo algum o socialismo pelo qual o movimento dos trabalhadores luta. Desse modo, a oposição contra a burocracia dirigente da Rússia não deve partir de uma análise qualquer de sua tática ou de seu dogmatismo, mas do princípio de que o sentido da vida dos indivíduos não tenha mudado realmente. E isto não é a obscura fatalidade da vida quotidiana destinada a permanecer sendo reacionária. É uma fatalidade imposta desde o exterior da vida quotidiana pela esfera reacionária dos dirigentes especializados, qualquer que seja a etiqueta sob a qual a planificam a miséria em todos os seus aspectos.
Por isso a despolitização atual de muitos dos antigos militantes da esquerda, seu abandono de uma certa alienação para cair nos braços de outra, a da vida privada, não tem o sentido de um retorno à privação como um refúgio contra as "responsabilidades da historicidade", mas sim o de um alheamento do setor político especializado, e por conseguinte sempre manipulado por outros; e a única responsabilidade que se assume verdadeiramente com isso é a de abandonar todas as responsabilidades a chefes incontrolados; é aí onde se burlou e se escamoteou o projeto comunista. Não se pode opor em bloco a vida privada à vida pública sem se perguntar: o que é vida privada? O que é vida pública? (pois a vida privada carrega os fatores de sua própria negação e superação, assim como a ação revolucionária coletiva pôde alimentar os fatores de sua degeneração). Mas do mesmo modo seria um erro fazer o balanço de uma alienação dos indivíduos na política revolucionária, quando do que se tratava era da alienação da política revolucionária. Dialetizar o problema da alienação, assinalar as possibilidades de alienação que constantemente aparecem no seio da mesma luta contra a alienação, tudo isso constitui uma tarefa legítima, mas devemos sublinhar ao mesmo tempo que semelhante tarefa deve ser levada a cabo no nível mais elevado da investigação (por exemplo, na filosofia da alienação em seu conjunto), e não no plano do estalinismo, cuja explicação, desgraçadamente, é mais grosseira.
Em nenhum lugar se superou ainda a civilização capitalista, apesar de que continua engendrando por força seus inimigos. A próxima ascensão do movimento revolucionário, radicalizado pela experiência das derrotas precedentes, deverá enriquecer seu programa reivindicativo até o nível dos poderes práticos da sociedade moderna, poderes que a partir do presente constituem virtualmente o nível dos poderes práticos da sociedade moderna, poderes que a partir do presente constituem virtualmente a base material que faltava às correntes do socialismo chamadas utópicas; esta próxima tentativa de contestação total do capitalismo saberá inventar e propor um uso distinto da vida quotidiana, e se apoiará imediatamente nas novas práticas quotidianas, em novos tipos de relações humanas (sem ignorar já que toda conservação no seio da organização revolucionária mesma das relações dominantes na sociedade existente conduz inevitavelmente à restauração, com diversas variantes, desta mesma sociedade).
Assim como antigamente a burguesia, em sua fase ascendente, teve que liquidar implacavelmente tudo que estava além da vida terrena (o céu, a eternidade), assim também o proletariado revolucionário - que jamais pode reconhecer um passado ou um modelo, a menos que deixe de existir como tal - deverá renunciar a tudo que exceda à vida quotidiana, Ou melhor , a tudo que pretende axcedê-la: o espetáculo, o gesto ou a frase "históricos", a "grandeza" dos dirigentes, o mistério das especializações, a "imortalidade" da arte e sua importância exterior à vida. O que quer dizer: renunciar a todos os subprodutos da eternidade que sobreviveram como armas do mundo dos dirigentes.
A revolução na vida quotidiana, na medida em que destrói sua atual resistência ao histórico (e a todo tipo de mudança), criará as condições que farão possível "a dominaçãos do presente sobre o passado", e nas quais a criatividade venderá a repetição. Deve-se esperar, portanto, que o lado da vida quotidiana expresso pelos conceitos da ambigüidade - mal-entendido, compromisso ou abuso - perca amplamente sua importância em proveito de seus contrários, a eleição consciente ou o risco.
A atual critica artística da linguagem, contemporânea desta metalinguagem das máquinas que não é outra coisa que a linguagem burocratizada da burocracia no poder, será superada então por formas superiores de comunicação. A noção presente de texto social decifrável deverá dar origem a novos procedimentos de escrita de tal texto social, seguindo a direção das investigações atuais de meus companheiros situacionistas sobre o urbanismo unitário e sobre o esboço de um comportamento experimental. A produção central de um trabalho industrial completamente transformado será a criação de novas configuração da vida quotidiana, a criação livre dos acontecimentos.
A crítica e a recriação perpétuas da totalidade da vida quotidiana, antes de que seja efetuada de uma forma natural por todos os homens, deve ser empreendida sob as condições da opressão total, e com o objetivo de arruinar tal opressão.
Entretanto, não é um movimento cultural de vanguarda quem pode cumprir semelhante programa, por maior que seja suas simpatias revolucionárias. E tampouco pode realizá-lo um partido revolucionário de molde tradicional, por muito que conceda um lugar primordial à crítica da cultura (entendendo este termo como o conjunto de instrumentos artísticos ou conceituais mediante os quais uma sociedade se explica a si mesma, estabelecendo objetivos para a vida). Uma e outra, esta cultura e esta política, já estão esgotadas, por isso não é de se estranhar que a maior parte das pessoas se sintam indiferentes a elas. A transformação revolucionária da vida quotidiana não está reservada a um futuro vago: o desenvolvimento do capitalismo e seus insustentáveis imperativos nos estabelece imediatamente, na medida em que sua alternativa não é outra senão a perpetuação da escravidão moderna; e esta transformação assinalará o fim de toda expressão artística unilateral e armazenada sob a forma de mercadoria, ao mesmo tempo que o fim de toda política especializada.
Esta será a tarefa de uma nova organização revolucionária; tarefa que começará a partir de sua própria formação.
Guy Debord, 1961
12.13.2008
Entrevista Hakim Bey
Entrevista Hakim Bey - High Times Magazine |
Muito antes dele se tornar uma lenda “cult”, eu ouvi pela primeira vez o nome do misterioso e esquivo Hakim Bey quando girava o dial do rádio em Nova York. Ele foi mencionado em um programa da WBAI FM chamado “A Cruzada Moura Ortodoxa”. Mas logo, amigos estavam falando em surdina sobre suas buscas à Zona Autônoma Temporária. Intrigado, eu procurei pelo clássico underground de Hakim, T.A.Z., A Zona Autônoma Temporária: Anarquismo Ontológico e Terrorismo Poético (Autonomedia, po Box 568, Brooklyn, ny 11211). Eu o achei numa pequena livraria esotérica que tinha desde trabalhos de Emma Goldman até Aleister Crowley. Eu comecei a perguntar sobre a Sociedade do Anarquismo Ontológico e sobre esse enigmático Hakim Bey. Ninguém sabia como chegar ao efêmero Hakim. Ligar para os editores dele me deixou ainda mais frustrado. Hakim Bey também lançou um CD declamado com música de Bill Laswell pelo selo Axiom, chamado também de TAZ. Então eu os contatei também - inutilmente. Então um dia eu acho um bilhete na minha cama dizendo para vir à Rua Mott às 9 da noite para uma entrevista. Como isso veio parar aí? Na Rua Mott, um carro anônimo encosta e me leva a um obscuro restaurante num porão em Chinatown, onde uma cabine privada com cortinas está separada, com um pequeno narguilé e um prato cheio de Bolas de Templo Nepalesas(1). Sou convidado a entrar.
HIGH TIMES: Hakim, de onde você é?
HAKIM BEY: Bem, a informação padrão (que é tudo que eu falo) é que eu era um poeta da corte de um principado sem nome no norte da Índia, que eu fui preso na Inglaterra por um atentado anarquista a bomba e que eu vivo em Pine Barrens, Nova Jersey, em um trailer da Airstream(2). Quando eu venho a Nova York eu fico num hotel em Chinatown.
HT: O que é a Zona Autônoma Temporária?
HB: A Zona Autônoma Temporária é uma idéia que algumas pessoas acham que eu criei, mas eu não acho que tenha criado ela. Eu só acho que eu pus um nome esperto em algo que já estava acontecendo: a inevitável tendência dos indivíduos de se juntarem em grupos para buscarem liberdade. E não terem que esperar por ela até que chegue algum futuro utópico abstrato e pós-revolucionário.
A questão é: como os indivíduos em grupos maximizam a liberdade sob as situações dos dias de hoje, no mundo real? Eu não estou perguntando como nós gostaríamos que o mundo fosse, nem naquilo em que nós estamos querendo transformar o mundo, mas o que podemos fazer aqui e agora. Quando falamos sobre uma Zona Autônoma Temporária, estamos falando em como um grupo, uma coagulação voluntária de pessoas afins não-hierarquizada, pode maximizar a liberdade por eles mesmos numa sociedade atual. Organização para a maximização de atividades prazeirosas sem controle de hierarquias opressivas.
Existem pontos na vida de todos que as hierarquias opressivas invadem numa regularidade quase diária; você pode falar sobre educação compulsória, ou trabalho. Você é forçado a ganhar a vida, e o trabalho por si só é organizado como uma hierarquia opressiva. Então a maioria das pessoas, todos os dias, tem que tolerar a hierarquia opressiva do trabalho alienado.
Por essa razão, criar uma Zona Autônoma Temporária significa fazer algo real sobre essas hierarquias reais e opressivas – não somente declarar nossa antipatia teórica a essas instituições. Você vê a diferença que eu coloco aqui?
No aumento da popularidade do livro, muitas pessoas se confundiram com esse termo e usaram ele como um rótulo para todo o tipo de coisa que ele realmente não é. Isso é inevitável, uma vez que o próprio vírus da frase está solto na rede (para usar metáforas de computadores). Se as pessoas usam erroneamente ele ou não isso não é tão importante, porque o significado está incrustado no termo. É como um vírus verbal. Ele diz o que significa.
HT: Uma Zona Autônoma Temporária necessariamente se abstém do uso do dinheiro?
HB: Isso é difícil em uma situação real, mas pode acontecer. O Rainbow Gathering (3), por exemplo, se abstém do uso do dinheiro. Isso é quase que uma garantia de um grau muito maior de autonomia temporária para as pessoas que estão participando.
Eles na realidade aumentam seu prazer saindo fora da economia de dinheiro/mercadorias.
HT: A imprensa ligou o fenômeno TAZ ao movimento cyberpunk. Você acha que a Internet é uma Zona Autônoma Temporária?
HB: Não. Um mal entendido muito peculiar veio à tona. A revista Time fez uma matéria sobre o ciberespaço que me citou erroneamente - o que me deixou particularmente feliz. Se a Time entendesse o que eu estava falando, eu seria forçado a reestruturar toda minha filosofia, ou talvez desaparecer pra sempre em desgraça.
Eles diziam que o ciberespaço era uma Zona Autônoma, e eu não concordo. Enfaticamente não concordo. Eu acho que a liberdade inclui o corpo. Se o corpo está em um estado de alienação, então a liberdade não é completa em nenhum sentido. O Ciberespaço é um espaço sem corpo. Ele é, de fato, um espaço abstrato e conceitual. Não existe cheiro nele, nem gosto, nem sentimento e nem sexo. Se qualquer uma dessas coisas existe lá, são apenas simulacros dessas coisas e não elas mesmas.
A única coisa que a Internet ou o cIberespaço podem ter com relação à Zona Autônoma Temporária é que eles são instrumentos ou “armamento” para alcançar a liberdade. Então é importante trabalhar para proteger as liberdades de expressão e comunicação que estão abertas neste exato momento pela Internet contra o FBI e Clinton e a “Infobahn” (um bom termo em alemão para designar a auto-estrada da informação). Cuidado para não ser atropelado na Infobahn! Comunicando-se por uma BBS(4), um grupo pode planejar um festival de maneira muito mais eficaz, alguma coisa como um Rainbow Gathering, estruturado nas chances para maximizar o potencial para o surgimento de uma TAZ real. A Internet também pode ser usada para montar uma rede econômica alternativa genuína. Trocas e permutas trilhadas na Internet em comunicações privilegiadas.
HT: Você pode explicar o “Terrorismo Poético”?
HB: Por terrorismo poético eu entendo ações não-violentas em larga escala que podem ter um impacto psicológico comparável ao poder de um ato terrorista - com a diferença de que o ato é de mudança de consciência. Digamos que você tem um grupo de atores de rua. Se você chamar o que você está fazendo de “performance de rua”, você já criou uma divisão entre o artista e a audiência, e você alienou de si mesmo qualquer possibilidade de colidir diretamente nas vidas diárias da audiência. Mas se você pregar uma peça, criar um incidente, criar uma situação, pode ser possível persuadir as pessoas a participar e a maximizar sua liberdade. É uma estranha mistura de ação clandestina e mentira (que é a essência da arte) com uma técnica de penetração psicológica de aumento da liberdade, tanto no nível individual quanto no social.
HT: Você pode fazer algumas sugestões especial ao leitor da HIGH TIMES para criar uma TAZ?
HB: Ok, tudo bem. Eu gostaria de dizer isso ao movimento canabista, e, em um nível mais amplo, eu gostaria de direcionar isto ao movimento libertário em geral, que é um aliado próximo, cruza e tem áreas de contingência com o movimento canabista.
Se os Libertários tivessem gasto os últimos quinze anos organizando redes econômicas alternativas para potencializar a emergência de uma Zona Autônoma Temporária e levá-la rumo a uma Zona Autônoma Permanente, ao invés de jogar o jogo fútil das políticas de terceiros, que é uma posição fracassada desde o início; se o movimento canabista tivesse colocado sua energia nos últimos quinze anos na organização de redes econômicas alternativas, não necessariamente baseadas em trocas “criminosas” de dinheiro por maconha mas nas necessidades e possibilidades básicas da vida real; se toda essa energia fosse direcionada nesse sentido, ao invés do que parece para mim uma quimera total, um fantasma totalmente abstrato chamado “poder político democrático legislativo” - então eu penso que estaríamos há muito no caminho claro da mudança revolucionária nessa sociedade.
Nessas circunstâncias, toda essa boa intenção e grande energia foi mal direcionada em um jogo - um jogo em que a autoridade cria as regras, e nas quais “eles” criaram as regras para que pessoas como eu e você não possam ganhar poder dentro desse sistema.
Agora isto é uma crítica anarquista que eu estou fazendo, com os motivos mais camaradas possíveis. Eu acho que é uma tragédia essa energia ter sido mal direcionada. Eu não acho que é tarde demais para acordar e ver o que está na verdade acontecendo(5) aqui.
Outro ponto que eu gostaria de falar é que a HIGH TIMES foi particularmente culpável durante a última eleição, quando conclamou seus leitores (incluindo uma grande porcentagem de usuários de maconha nesse país) a votar naquele Clinton filho da puta, baseado em um rumor extremamente suspeito: de que Al Gore, um conhecido mentiroso, hipócrita e embusteiro, cochichou pra alguns ativistas da maconha que ele estava do lado deles. E por isso, presumivelmente, milhares, se não milhões, de fumantes de maconha saíram e votaram em um outro bando de filhos da puta, se esquecendo toda a sabedoria do antigo slogan anarquista, “nunca vote, isso só encoraja os bastardos.”
Eu vou fazer uma aposta agora. Eu como a edição da revista em que isto será impresso se, sob a administração Clinton, existirem quaisquer melhoras na lei relacionada ao uso da cannabis por prazer. Pode haver um pequeno abrandamento no uso da maconha medicinal ou comercial. Mas não haverá abrandamento - de fato, somente haverá uma maior regulação - no uso da erva por prazer. Ok? E se isso não for verdade, eu como a porra da revista com uma merda de um leite e um açúcar.
HT: Isso seria um ato de terrorismo poético?
HB: Heh, heh.
HT: Você acha que o movimento canabista é contraproducente em alguns aspectos?
HB: Antes de qualquer crítica, eu preciso enfatizar que eu pertenço a uma religião em que a maconha é um sacramento, e eu sou um defensor vitalício de ações pró-maconha. Eu uso o termo “ação” ao invés de “legalização” por uma razão muito específica, na qual eu vou chegar. Daí eu ofereço crítica em um espírito construtivo. Eu quero que isso fique bem claro, como Nixon costumava dizer.
Nos anos em que vêm existindo um movimento pela legalização da maconha, todas as leis desse país ficaram piores e mais opressivas. No tempo em que vêm existindo um movimento de legalização da maconha, o preço da erva ficou proibitivamente caro por causa da Guerra às Drogas. Existe aí uma relação direta entre a Guerra às Drogas e o movimento pela legalização da maconha? Provavelmente não muita. Porém, tagarelar tudo todo o tempo e fazer tudo aberto, deixando as estatísticas e listas de discussões disponíveis para as agências de inteligência e outras não é uma tática boa quando você está na verdade lidando com uma substância ilegal.
Eu acho que temos um complexo de mártir nessa situação. Existem pessoas que querem confrontamento contra uma projeção psicológica do que eles acham que é a “autoridade”. Em outras palavras, contra quem é relativo à autoridade de um jeito autoritário. Simplesmente por desafiarem abertamente essa autoridade, eles estão se definindo como criminosos e vítimas do estado.
HT: Você acha que eles poderiam usar um pouco de terrorismo poético?
HB: Eu acho que eles poderiam usar um pouco de clandestinidade sensata e um pouco do senso do terrorismo poético, sim.
HT: Você escreveu extensamente sobre os tongs(6), as sociedades secretas Chinesas. Você diria que a economia underground da maconha é organizada de forma semelhante aos tongs?
HB: Absolutamente, é organizada como uma soma, como uma... bem, não é organizada como uma soma de tongs, e é isso que é o problema. O ponto é que um tong é uma sociedade secreta. E isto, novamente, é algo que não é somente uma fantasia; é algo real. Um grupo de amigos com afinidades que se junta para intensificar seu prazer e liberdade por meios que não sejam reconhecidos como legais pela sociedade criou inconscientemente uma tong. O que eu acho que eles poderiam fazer é conscientemente criar uma tong. O que nós precisamos aqui é uma estética e uma tradição de sociedades clandestinas não-hierárquicas.
Como nós organizamos verdadeiras redes secretas de permuta? Mas também, como nós criamos uma poética desta situação, como nós fazemos disto algo que funcione não somente num nível econômico prático, mas também num nível imaginário, onde os corações das pessoas estão comprometidos?
HT: Uma comunidade.
HB: Eu iria além, ao usar o termo de Paul Goodman, communitas, para mostrar que nós estamos falando sobre algo que é mais que um arranjo a esmo, mas realmente um objetivo pela qual nós estamos nos esforçando.
Eu vejo a Zona Autônoma Temporária como o florescimento temporário do sucesso dessas redes. O que nós estamos esperando é que as estruturas não hierárquicas atuais maximizem seu potencial para o surgimento de uma TAZ.
Vamos falar sobre as redes como uma espécie de subsolo rico em micélios que são por si só o corpo verdadeiro da planta. E ele pode se espalhar por milhas, como você sabe. Os cogumelos que aparecem, os frutos - eles são como uma Zona Autônoma Temporária, esses são as florescências da rede, se eu consigo fazer aqui minha metáfora botânica.
Uma das formas mais óbvias de florescimento é o festival: a rave, o Rainbow Gathering, os festivais Zippies(7) e coisas como o festival Burning Man(8) em Nevada - esses tipos de festivais espontâneos, não regulados, não mercantilizados, que aparecem.
HT: Mas talvez eles tenham vidas, “vidas de prateleira”(9) - só uma certa quantidade de tempo quando eles podem criar e florescer.
HB: Existem algumas coisas que são inerentemente temporárias. E existem outra coisas que são temporárias somente porque não somos fortes o suficiente para fazê-las permanentes. Digamos que você se instala por alguns meses em um lugar bonito perto de uma floresta, na beira de um lago, no verão, com alguns amigos e você tem uma TAZ verdadeira. Erotismo e beleza natural e liberdade pra correr pelado por aí e fumar maconha ou fazer o que você quiser. Mas como isto tudo é movido pelo dinheiro que as pessoas têm que fazer no mercado onde elas vendem o trabalho, isto pode durar somente um certo tempo. Nós gostaríamos de fazer isto durar para sempre, transformado a TAZ em uma PAZ, uma Zona Autônoma Permanente (Permanent Autonomous Zone). Nós não temos o poder econômico para fazer isto. É temporário somente porque nos falta o poder para fazermos isto mais permanente.
Outras coisas são claramente temporárias, e devem ser apreciadas pela sua temporalidade. Quando a essência saiu delas nós devemos perceber isto, e deixar esta forma em busca de outras formas. Então uma certa quantidade do que vem sendo chamado de “trabalho de flutuação” é necessário. Você tem que estar sintonizado com onde a liberdade e o prazer estão sendo potencializados e onde não estão, para que você possa espontaneamente se manter flutuando e ficar à frente desse fenômeno. Isso é exatamente o que hordas de pessoas estão fazendo por aí: velhos camaradas em rv´s(10), caras novos viajando clandestinamente, está tudo acontecendo. Não estou descrevendo um esquema utópico, é o que está acontecendo de qualquer jeito. Tenhamos consciência disso. Vamos perceber que isso é um verdadeiro valor, porque faz algo por nossas vidas, diferentemente de todo essa jogatina política estúpida.
Nós somos constantemente seduzidos a colocar nossas forças e nosso amor e nossa criatividade em objetivos que são imediatamente reocupáveis e cooptáveis e mercantilizáveis por “eles”. Isso devia parar.
HT: Eu vejo pessoas tendo problemas para comunicar-se com outras porque elas estão acostumadas a se falar pela televisão. Então, quanto você está trabalhando em uma comunidade, o primeiro passo para criar uma TAZ seria a comunicação.
HB: Absolutamente. As pessoas estão alienadas pela mídia. Isso é algo que tem que ser repetido constantemente. Quanto mais você se relaciona com os meios, menos você se relaciona com outros seres humanos em sua proximidade física. Novamente, isso não é uma grande teoria, isto é algo que simplesmente está acontecendo. Você gasta mais tempo vendo TV, você gasta menos tempo se relacionando com seus amigos. E quando isto se espalha em nível social, você começa a ver algumas coisas muito estranhas ocorrendo. A corrente tem mais força que qualquer participação individual na corrente. Existe uma sinergia negativa, um efeito de realimentação negativa por meio do qual sua alienação de outras pessoas está sendo causada por televisões e rádios e filmes e jornais e livros. Eu certamente não isento os impressos dessa crítica. E subitamente você descobre que não é somente uma questão de alienação, é uma questão de miserabilidade. Essa separação de você da realidade física está fazendo você miserável.
Muitas pessoas chegaram a esse ponto. Eles não sabem o que fazer porque nós não estamos dando a eles uma direção. Digo, radicais fumantes de maconha não estão dando a eles uma alternativa clara e realista, mas ao invés disso estão sonhando acordados com várias merdas de New Age e estilo de vida.
HT: Onde as pessoas podem achar Zonas Autônomas Temporárias às quais você estaria disposto a dizer quando e onde encontrar?
HB: Eu não posso - porque elas não existem precisamente em mapas com coordenadas cartesianas. Existem outras dimensões que não os mapas onde as Zonas Autônomas Temporárias podem ser achadas. Eu gosto de metaforizar estas dimensões como dimensões fractais, o que traz toda a questão de caos e complexidade. E uma das razões pelas quais eu não posso te dar nenhum indicativo é porque essa é uma situação fractal carregada de complexidade. A qualquer momento uma TAZ pode ocorrer. Em um nível mínimo, um jantar na casa de alguém pode repentinamente evoluir em uma TAZ. Não qualquer jantar, mas o potencial está lá porque é organizado de uma maneira não hierárquica, para convivência. E, em um nível máximo, você teve Zonas Autônomas Temporárias que duraram muito mais, onde a festa na realidade continuou por alguns anos. Quando estamos falando sobre a Zona Autônoma Temporária, per se, como nodos realmente intensos de consciência e ação, é possível que os seres humanos não possam aguentar muito disso. Talvez dezoito meses ou dois anos de festa contínua seja tudo que alguém pode aguentar.
HT: Bem, eu conheço algumas pessoas...
HB: Claro! Mas nós podemos falar de Zonas Autônomas Permanentes, você sabe, o que é um conceito diferente.
HT: Você chamaria o Rainbow Gathering de Zona Autônoma Permanente?
HB: Eu chamo ele de Zona Autônoma Periódica, o que é ainda outra variação dessa idéia. Existem certas Zonas Autônomas que você não pode manter o tempo todo, mas que você pode realizar com uma certa freqüência constante, e os festivais anuais são os exemplos. O que nós temos que fazer é evitar a mercantilização. Preciso dizer algo mais desse assunto? Ok?
O festival é um momento intenso, mas periódico. É momentâneo, mas periódico. Assim como no Rainbow, não é realmente necessário ser dono da propriedade, como eles inteligentemente descobriram. Qualquer grupo de pessoas na América pode fazer isso. Você não precisa se juntar às tribos Rainbow e seguir seu estilo de vida (que eu particularmente não acho atrativo). Você só faz um encontro em uma floresta nacional e monta sua tenda fora da linha de visão, ou você pega um lugar onde tenham poucos ursos.
No festival Burning Man, o guarda florestal mais próximo está a 75 milhas de distância, e eles converteram ele a um amigo e defensor do festival, de qualquer jeito. É organizado por alguns artistas da Califórnia que vão para a pior parte do deserto de Nevada, só um mar de areia preta até onde a vista alcança, e eles fazem uma estátua gigantesca de um homem de vime, então no último dia do festival eles ateiam fogo a ele e todo mundo bebe um monte de cerveja e vê ele queimar. É um tremendo sucesso e está sendo repetido sempre com uma periodicidade anual. As pessoas amam isto. Um jornal é impresso no lugar, uma mini estação de rádio FM é montada cada ano e todos os tipos diferentes de pessoas vêm, de caras que moram isolados em rvs a ciclistasa hippies, o pessoal “flower” e o pessoal Rainbow e os hobos(11) e artistas da Califórnia. E todo mundo se diverte muito, e então eles arrumam as malas e vão embora e esse é o fim daquilo, e o guarda florestal não incomoda eles porque está a 75 milhas de distância e ele gosta daquilo de qualquer jeito porque eles deixam o lugar limpo. Então qualquer um pode fazer isso. Você não precisa esperar pela permissão de alguma autoridade tribal.
HT: Criar uma TAZ é quase como criar o seu próprio espaço autônomo livre em você mesmo.
HB: Eu fico repetindo a frase “maximize o potencial para o aparecimento”. Eu sei que é uma frase meio grotesca e complicada, mas ela precisa ser sempre inserida em qualquer frase que nós falemos aqui. Você não pode declarar uma TAZ. Ou, se você pode, você é um mágico muito mais eficiente do que eu. Você simplesmente não pode decidir ter uma TAZ. Uma TAZ é algo que acontece espontaneamente. Quando de repente você diz, uau, sabe, tem N pessoas aqui, mas tem N mais N energia, excitação, prazer, liberdade, consciência. Certo? Esse momento de sinergia de corrente cruzada acontece quando um grupo de pessoas está tendo algo mais de uma situação que a soma do que os indivíduos estão colocando nisto. Você não pode prever isto. Tudo o que você pode fazer é maximizar o potencial para o aparecimento.
Glossário
1. Bolas de Templo Nepalesas (Nepalese Temple Balls) - nome dado para pelotas de haxixe.
2. Airstream - Tradicional marca americana de trailers e motor-homes, pertencente à Thor Industries. Seu website é www.airstream-rv.com.
3. Rainbow Gatherings - festival-encontro dos participantes da “Família Arco-Íris da Luz Viva”(Rainbow Family of Living Light), que na realidade não é uma organização, mas diferentes pessoas que pregam a construção de pequenas comunidades, não violência, estilo de vida alternativo, Paz e Amor, e tradições indígenas americanas. Esse encontro, que acontece anualmente, tem por objetivo rezar pela paz no planeta.
4. BBS - Bulletin Board System, um termo de informática que designa uma base de dados de mensagens acessível pela Internet, ou melhor ainda, um mural de recados eletrônico.
5. No original, “I don’t think that it’s too late to wake up and smell the coffee here.”
6. Tong - sociedade secreta chinesa, do cantonês tong, “assembléia de todos”.
7. Festival Zippy - encontro das pessoas da cultura zippie - que se definem, em parte, como hippies tecnológicos, que acreditam em funções religiosas na tecnologia. O nome vem de hippies com zip. Retirado de http://www.fiu.edu/~mizrachs/Zippies.html
8. Festival Burning Man - festival que reúne anualmente cerca de vinte e cinco mil pessoas, e envolve música, arte e comunidade. Retirado de http://www.burningman.com/
9. Vida de Prateleira - extensão de tempo que um produto, especialmente alimento, pode permanecer na prateleira de uma loja antes de se tornar impróprio para uso; prazo de validade.
10. RV (recreation vehicles) - veículos como trailers e motor-homes.
11. hobo - Alguém que viaja de lugar a lugar procurando por lares e empregos temporários. Retirado de www.hobotraveler.com/hobo.shtml
Zona Autonoma Temporaria
*Copyleft : esse livro não possui direito$ Autorai$ podendo ser livremente
distribuído, preservando o nome do Autor.
"...desta vez, no entanto, eu venho como o vitorioso Dionísio, que transformará o mundo numa festa... Não que eu tenha muito tempo..."
Nietzsche (em sua última carta "insana" a Cosima Wagner)
CAPÍTULO 3 A PSICOTOPOLOGIA DA VIDA COTIDIANA
uma análise do levante. A revolução classifica o levante como um
"fracasso". Mas, para nós, um levante representa uma possibilidade muito
mais interessante, do ponto de vista de uma psicologia de libertação, do que
as "bem-sucedidas" revoluções burguesas, comunistas, fascistas etc.
Um outro elemento gerador do conceito da TAZ surge de um
processo histórico que eu chamo de "fechamento do mapa". O último
pedaço da Terra não reivindicado por uma nação-Estado foi devorado em
1899. O nosso século é o primeiro sem terra incógnita, sem fronteiras.
Nacionalidade é o princípio mais importante do conceito de "governo" -
nenhuma ponta de rocha no Mar do Sul pode ficar em aberto, nem um vale
remoto, sequer a lua ou os planetas. Essa é a apoteose do "gangsterismo
territorial". Nenhum centímetro quadrado da Terra está livre da polícia ou
dos impostos... em teoria.
O "mapa" é uma malha política abstraía, uma proibição
gigantesca imposta pela cenoura/cacetete condicionante do Estado
"Especializado", até que para a maioria de nós o mapa se torne o território -
não mais a "Ilha da Tartaruga3", mas os "Estados Unidos". E ainda assim o
mapa continua sendo uma abstração, porque não pode cobrir a Terra com a
precisão 1:1. Dentro das complexidades fractais da geografia atual, o mapa
pode detectar apenas malhas dimensionais. Imensidões embutidas e
escondidas escapam da fita métrica. O mapa não é exato, o mapa não pode
ser exato.
A Revolução fechou-se, mas a possibilidade do levante está
aberta. Por ora, concentramos nossas forças em "irrupções" temporárias,
evitando enredamentos com "soluções permanentes".
O mapa está fechado, mas a zona autônoma está aberta.
Metaforicamente, ela se desdobra por dentro das dimensões fractais
invisíveis à cartografia do Controle. E aqui podemos apresentar o conceito
de psicotopologia (e psicotopografia) como uma "ciência" alternativa àquela
da pesquisa e criação de mapas e "imperialismo psíquico" do Estado.
Apenas a psicotopografia é capaz de desenhar mapas da realidade em escala
1:1, porque apenas a mente humana tem a complexidade suficiente para
modelar o real. Mas um mapa 1:1 não pode "controlar" seu território, porque
é completamente idêntico a esse território. Ele pode ser usado apenas para
sugerir ou, de certo modo, indicar através de gestos algumas características.
Estamos à procura de "espaços" (geográficos, sociais, culturais,
imaginários) com potencial de florescer como zonas autônomas - dos
momentos em que estejam relativamente abertos, seja por negligência do
Estado ou pelo fato de terem passado despercebidos pelos cartógrafos, ou
por qualquer outra razão. A psicotopologia é a arte de submergir em busca
de potenciais TAZs.
12.12.2008
Levante Grego- Comunicado de la escuela de teatro okupada en Salónica
Comunicado de la escuela de teatro okupada en Salónica
El asesinato de Alexandros no fue un incidente aislado como dice el Gobierno con audacia. Su declaración se completa con las hechas por el ex ministro de Justicia (Polydoras), que afirma que hace falta tiempo que un policía pierda los nervios y dispare. Sin embargo, todos los elementos y todos los testigos indican y nos obligan a pensar que un sólo ataque verbal puede ser suficiente para que un policía pierda los nervios y dispare.
El asesinato del joven estudiante serbio Bulatovic en 1998 en Salónica por un policía, el asesinato del jóven Leontidis por un policía en la calle Cassandrou en 2003, la muerte del jóven de 24 años Tony Onohua después de haber sido perseguido por la policía civil en la zona de Kalamaria el verano de 2007, el asesinato de de un hombre de 45 años en Maria Lefkimi después del ataque de la policía a las personas que luchan contra la instalación de plantas de reciclaje de residuos, el asesinato del migrante pakistaní Petrou Ralli en las calles en Atenas el mes pasado, el día a día de la humillación y de la violencia contra quienes traspasan los precintos policiales en toda Grecia, los disparos contra los participantes de las manifestaciones universitarias el año pasado, el ataque violento a las manifestaciones, la violencia en contra de todo aquel que protesta. Y, por suepuesto,los asesinatos cotidianos, políticos y económicos que sufren los inmigrantes por parte de las patrullas fronterizas. Incluso las muertes por congelación aguas del Egeo, o los campos de minas en la provincia de Evros: todo esto conforma la imagen de la policía griega.
El asesinato de Alexandros ha generado una ola de ira y desesperación por parte de cientos de miles de jóvenes y ciudadanos de todas las edades. No es sólo el asco y la repugnancia por la muerte de un joven. Es la consciencia común que todos compartimos como hermanos, amigos y padres de que hay una bala con nuestro nombre a la espera de el dia que nos toque. Vivimos en una realidad social donde los únicos recompesnados son los ladrones que nos manipulan, políticos y religiosos que participan en ello. Vivimos tratando de sobrevivir en un mañana sin futuro.
Hemos entregado el futuro y la gestión de nuestra sociedad a personas sin moral ni reglas ni respeto. En tal realidad, el asesinato de Alexandros fue la última gota que saturó nuestra rabia. Pero la rabia no es sólo una emoción. Es una lucha por la justicia social. Con una justicia ausente de la realidad social no habrá paz social. Con tal sumision y desigualdad social sólo se puede hablar de paz en los cementerios.
Sólo porque somos jóvenes como Alexandros, sólo porque queremos soñar con la dignidad, el Estado y las autoridades se han propuesto imponer sumisión y desesperación. Porque queremos vivir , por eso estamos furiosos y luchamos. Por lo tanto, no podemos olvidar a Alexandros ni a todos los Alexandros que han muerto bajo las balas policiales.
Por tanto rechazamos la paz con aquellos que destruyen el futuro de los jóvenes, rechazamos las lágrimas de cocodrilo de la hipocreasía de los ministros. Amor por la vida, esperanza para el pueblo. Por una lucha en el dia a dia junto a nuestros compañeros, nuestros amigos, nuestras familias y nuestros camaradas para alcanzar una sociedad civil sin guardias y solidaria.
Hacemos un llamamiento a todos los ciudadanos, todos los estudiantes y los trabajadores a marchar con nosotros contra un gobierno respaldado por asesinos. Pedimos a los compañeros de escuela de Alexandros en Salónica honrar la memoria de su compañero y que se abstengan de acudir a clase este martes, el día del funeral de Alexandros.
Manifestación en Aristelous el martes 9 de diciembre, el día del funeral. Thessaloniki 6/12/08
Asamblea de la Escuela de Teatro Ocupada
PS: las escuelas están cerradas en toda Grecia desde el 8 / 12. Los presos de la cárcel de Diavata en Salónica que se encontraban en huelga de hambre hace unas semanas, han enviado un mensaje anunciando que están de nuestro lado en la lucha. Hoy (9 / 12) es el entierro de Alexandros Andreas Grigoropoulos en 3 p.m. en Atenas. Marcharemos por las calles del centro de Salónica el mismo tiempo que se entierra nuestro compañero. Toda Grecia estará en la calle.
http://laestrellanegra.wordpress.com/2008/12/10/revolucion-en-grecia/
Fonte: REBELION.ORG
pra começar.....
"Em resumo, não queremos dizer que a TAZ é um fim em si mesmo, substituindo todas as outras formas de organização, táticas e objetivos. Nós a recomendamos porque ela pode fornecer a qualidade do enlevamento associado ao levante sem necessariamente levar à violência e ao martírio. A TAZ é uma espécie de rebelião que não confronta o Estado diretamente, uma operação de guerrilha que libera uma área (de terra, de tempo, de imaginação) e se dissolve para se re-fazer em outro lugar e outro momento, antes que o Estado possa esmagá-la. Uma vez que o Estado se preocupa primordialmente com a Simulação, e não com a substância, a TAZ pode, em relativa paz e por um bom tempo, "ocupar" clandestinamente essas áreas e realizar seus propósitos festivos. Talvez algumas pequenas TAZs tenham durado por gerações - como alguns enclaves rurais - porque passaram desapercebidas, porque nunca se relacionaram com o Espetáculo, porque nunca emergiram para fora daquela vida real que é invisível para os agentes da Simulação.
A Babilônia toma suas abstrações como realidades. É precisamente dentro dessa margem de erro que a TAZ surge. Iniciar a TAZ pode envolver várias táticas de violência e defesa, mas seu grande trunfo está em sua invisibilidade - o Estado não pode reconhecê-la porque a História não a define. Assim que a TAZ é nomeada (representada, mediada), ela deve desaparecer, ela vai desaparecer, deixando para trás um invólucro vazio, e brotará novamente em outro lugar, novamente invisível, porque é indefinível pelos termos do Espetáculo. Assim sendo, a TAZ é uma tática
perfeita para uma época em que o Estado é onipresente e todo-poderoso mas, ao mesmo tempo, repleto de rachaduras e fendas. E, uma vez que a TAZ é um microcosmo daquele "sonho anarquista" de uma cultura de liberdade, não consigo pensar em tática melhor para prosseguir em direção a esse objetivo e, ao mesmo tempo, viver alguns de seus benefícios aqui e agora.
Em suma, uma postura realista exige não apenas que desistamos de esperar pela "Revolução", mas também que desistamos de desejá-la. "Levantes", sim - sempre que possível, até mesmo com o risco de violência. Os espasmos do Estado Simulado serão "espetaculares", mas na maioria dos casos a tática mais radical será a recusa de participar da violência espetacular, retirar-se da área de simulação, desaparecer.
A TAZ é um acampamento de guerrilheiros ontologistas: ataque e fuja. Continue movendo a tribo inteira, mesmo que ela seja apenas dados na web. A TAZ deve ser capaz de se defender; mas, se possível, tanto o "ataque" quanto a "defesa" devem evadir a violência do Estado, que já não é uma violência com sentido. O ataque é feito às estruturas de controle, essencialmente às ideias. As táticas de defesa são a "invisibilidade", que é uma arte marcial, e a "invulnerabilidade", uma arte "oculta" dentro das artes marciais. A "máquina de guerra nômade" conquista sem ser notada e se move antes do mapa ser retificado. Quanto ao futuro, apenas o autônomo
pode planejar a autonomia, organizar-se para ela, criá-la. E uma ação conduzida por esforço próprio. O primeiro passo se assemelha a um satori - a constatação de que a TAZ começa com um simples ato de percepção."( HAKIM BEY)
TAZ........ZONA AUTONOMA TEMPORÁRIA
http://www.badongo.com/file/12455154
só clicar e seguir os passos.....
Pro pessoal da Geografia que está querendo fazer o GT pro ENEG..
ESTE É O COMEÇO !!!
8.14.2008
Sou vivo sendo, e sendo eu sou livre.
Nos convencemos que não somos livres e que a sociedade extrai nossas particularidades e, conseqüentemente, nossa liberdade. Sim! A sociedade que não conhece, não sente sua própria liberdade nunca se sentirá livre e nunca fará com que os indivíduos que a formam se sintam livres. Não entendemos o que esta liberdade realmente significa. Buscamos formas de nos libertarmos. Não há formas de se libertar. A liberdade é anterior ao que pensamos sobre ela. Nunca a atingiremos se a almejarmos com tanta veemência e nos cegarmos à ela, ao mesmo instante que parecemos vê-la.
A liberdade não é libertária, não é anarquista ou socialista. É o que é. Um sopro de vida, um hálito de sensações.
Nos perdemos cada vez mais. Nos distanciamos da essência da vida, da simplicidade que nos faz únicos e livres. A sociedade maltrata nossos seres, nossos laços, nossas reais necessidades. Buscamos soluções que não passam de perpetuações da merda. Ecologia, psicologia, geografia. Conceitos limitantes e absolutamente contrários ao que seria uma boa explicação sobre a vida na terra. Não há explicações, é claro, mas há interpretações. Todo tipo de manifestação, como esta, é uma análise.
Fica a contradição. Somos absolutamente livres e não somos ao mesmo tempo. Só seremos quando entendermos que a liberdade é sinônimo da única coisa que sempre existirá. A vida.
psicografado por Lou Kass
6.11.2008
a geografia pede mudança....
enquanto um dia se encontravam...
jogando prosa no copo,
esfumaçando os pensamentos,
chegaram ao questionamento:
Será que já se foi o tempo da Crítica?
talvez tentaram nos fazer esquecer...
controle de informação "academicista"...
quem procura acha! - FORA da escola...
salve a contra-informação...
glória a sinapse indepedente...
um brinde a subversão ...
enquadramento das idéias nas prateleiras...
modelos de alternativa nas gavetas...
teorização máxima, só uma linearidade...
pluralidade... a continuação da prática...
De um trago em Kropotkin...
Beba Reclus...
!...uma breve prosa sobre o(s) dia(s) que antecederam a elaboração deste blog.